Introdução
Em França, o número crescente de incêndios florestais todos os anos recorda a vulnerabilidade das nossas regiões aos riscos da seca e do aquecimento global. Os grandes incêndios já não se limitam ao sul do Mediterrâneo: o oeste e mesmo alguns departamentos do norte registam agora focos de incêndio cada vez mais frequentes. O Ministério do Interior, através dos serviços de emergência e dos bombeiros, insiste na importância da prevenção, da proteção e da gestão das zonas sensíveis.
No entanto, há um recurso ainda pouco explorado no combate aos incêndios: a água da chuva. Facilmente armazenada em reservatórios flexíveis, poderia desempenhar um papel decisivo no abastecimento de água para combate a incêndios, reduzindo a pressão sobre a água tratada e as reservas subterrâneas. Este artigo esclarece esta utilização complementar, as suas vantagens e os obstáculos a ultrapassar para que possa ser desenvolvida em grande escala.
Porquê utilizar a água da chuva para combater os incêndios?
Os riscos crescentes da seca e das alterações climáticas
Os incêndios estão a intensificar-se devido à seca prolongada. O aumento das temperaturas e a diminuição da humidade favorecem os incêndios de vegetação. As florestas francesas, quer se situem no sul, no oeste ou no centro do país, são atualmente zonas de alto risco. O último relatório do Ministério sublinha que o estado dos recursos hídricos está a tornar-se uma questão de prevenção tão importante como o planeamento urbano ou as obrigações legais de manutenção dos solos.
A escassez de recursos hídricos em tempos de crise
Durante os grandes incêndios, os bombeiros têm de mobilizar enormes quantidades de água para conter as chamas. Este facto sobrecarrega as redes de distribuição e os aquíferos subterrâneos. Em certos departamentos, esta situação provoca uma concorrência entre as necessidades da população e as dos serviços de emergência. A utilização de água meteórica, recolhida e armazenada a montante, poderia reduzir este impacto e limitar a dependência das redes colectivas.
As vantagens de utilizar um recurso disponível localmente
A utilização da água da chuva para combater os incêndios tem uma série de vantagens: disponibilidade imediata, impacto ambiental reduzido, ausência de conflitos com as necessidades domésticas. Em muitas zonas rurais, é já prática comum a utilização de instalações de armazenamento para rega ou para fins agrícolas. Alargar este princípio à proteção contra incêndios é uma solução simples e eficaz que está em linha com a abordagem preventiva promovida pela lei.
Armazenamento de águas pluviais para proteção contra incêndios
Tanques flexíveis de grande capacidade como solução prática
As instalações de armazenamento, nomeadamente as cisternas flexíveis, podem conter várias dezenas de milhares de litros. Fáceis de instalar em terreno plano, constituem uma reserva estratégica em zonas de risco. Estão particularmente adaptados às comunidades rurais e às habitações isoladas, muitas vezes afastadas das redes convencionais.
Sistemas subterrâneos e aéreos para autarquias locais e particulares
Para além das cisternas flexíveis, existem também tanques subterrâneos e lagos acima do solo que podem ser integrados em planos de planeamento locais. Estas estruturas podem ser declaradas nos documentos de planeamento urbano para cumprir as obrigações de proteção contra incêndios. O código de urbanismo e certas leis já exigem a instalação de pontos de água em determinadas zonas. Incorporar a recuperação de água seria uma resposta pragmática e sustentável.
Possibilidade de ligação a redes de incêndio
Uma das principais vantagens dos reservatórios de recolha de águas pluviais é a sua capacidade de serem ligados diretamente às redes utilizadas pelos bombeiros. Graças a um sistema simples de declaração e de ligação, tornam-se pontos de emergência fiáveis. Em alguns departamentos, projectos-piloto já permitem às autarquias locais utilizar as águas pluviais como um recurso adicional de proteção contra incêndios.
Emprego complementar e económico
Reduzir o consumo de água tratada para fins de combate a incêndios
Todos os anos, milhões de litros de água potável são utilizados pelos bombeiros para apagar os incêndios. Mas o aproveitamento da água da chuva permitiria preservar o recurso destinado ao consumo humano. Trata-se de uma alavanca de prevenção, de gestão e de redução dos riscos que beneficia toda a população.
Promover a gestão sustentável dos recursos
O aproveitamento da precipitação para o combate aos incêndios contribui para uma melhor gestão dos recursos. Reduz a pressão sobre as reservas subterrâneas, limita o impacto ambiental e preserva a biodiversidade florestal. Num clima em que a seca está a aumentar, esta utilização está a tornar-se uma questão natural.
Otimizar o investimento com vários postos de trabalho
Os tanques de recuperação não se destinam apenas ao combate a incêndios. Podem ser integrados em projectos de desenvolvimento mais vastos, como a irrigação agrícola, a rega de áreas comuns, a limpeza ou a manutenção de estradas. Desta forma, o investimento nestas instalações beneficia vários sectores e torna-as mais aceitáveis para as autoridades locais e para o público em geral.
Perspectivas e recomendações
O papel das autarquias locais e das zonas rurais face ao aumento dos incêndios
As comunidades rurais estão na linha da frente no que se refere ao risco de incêndio. O Ministério já está a encorajar algumas delas a declarar pontos de água específicos nos seus planos urbanísticos. A integração de estruturas de recolha de águas meteóricas em zonas sensíveis deve tornar-se uma prioridade.
Exemplos de iniciativas bem sucedidas em França e na Europa
Em França, vários departamentos do oeste e do sul do país estão a experimentar sistemas que combinam prevenção e recolha de águas pluviais. Em Espanha e Itália, países muito expostos a incêndios, a utilização de águas pluviais para abastecer os pontos de combate a incêndios é já reconhecida como uma solução eficaz. Estas reacções demonstram a importância da divulgação de informações práticas e da sensibilização.
Rumo ao reconhecimento legal e regulamentar
Atualmente, a lei e o código do urbanismo estabelecem certas obrigações em termos de pontos de água de combate a incêndios. Mas a recolha de águas pluviais ainda não está sistematicamente incluída nestes textos. Uma alteração da regulamentação permitiria tornar esta utilização mais segura, clarificar as declarações exigidas e reforçar a proteção global do ambiente.
Conclusão
O combate aos incêndios florestais já não pode depender apenas da água tratada das redes municipais e dos aquíferos subterrâneos. Num contexto de seca crescente e de aquecimento global, a utilização da água da chuva como recurso de defesa é uma solução simples, eficaz e respeitadora do ambiente. As instalações de armazenamento, quer sejam cisternas flexíveis, tanques subterrâneos ou bacias de desenvolvimento, representam um trunfo considerável para a prevenção e gestão dos riscos.
É tempo de o Ministério, as autarquias locais e os urbanistas reconhecerem plenamente esta solução, integrando-a na legislação e nas obrigações de proteção das florestas. As informações disponíveis e a experiência adquirida mostram que esta abordagem pode reforçar a proteção do ambiente e apoiar de forma duradoura o trabalho dos bombeiros e dos serviços de emergência em França.



