Uma emergência global face à escassez de água
Atualmente, a gestão da água está no centro das preocupações ambientais e humanas. Num mundo em mudança, marcado por repetidas crises climáticas e por um rápido crescimento demográfico, os recursos hídricos são cada vez mais escassos. De acordo com as Nações Unidas, mais de dois mil milhões de pessoas não têm acesso a água potável. A pressão sobre os recursos hídricos continua a aumentar, colocando sérios riscos à segurança alimentar, à saúde pública, à estabilidade geopolítica e ao desenvolvimento sustentável.
As águas residuais, durante muito tempo consideradas como um simples resíduo, tornam-se atualmente um recurso valioso a recuperar. O tratamento e a reutilização desta água estão atualmente no centro das estratégias de muitos países para garantir um abastecimento estável. Os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), nomeadamente o ODS 6, sublinham a importância de uma gestão integrada e sustentável da água, do saneamento e dos serviços conexos. É essencial ter em conta os milhões de metros cúbicos de água consumidos diariamente em todo o mundo, alguns dos quais poderiam ser poupados através de práticas mais sustentáveis e de um melhor controlo dos resíduos dos ciclos da água.
Israel: o mestre indiscutível da reciclagem da água
Israel é atualmente considerado o país mais avançado em termos de reutilização e reciclagem de águas residuais. Quase 90% das águas residuais domésticas são tratadas e reutilizadas, principalmente na agricultura. Esta taxa excecional faz de Israel um líder mundial incontestável. Graças a infra-estruturas de elevado desempenho, a uma política pró-ativa e a campanhas de sensibilização maciças, o país conseguiu transformar uma carência estrutural numa alavanca para a inovação.
O sistema israelita baseia-se numa combinação de energias renováveis para o tratamento da água, tecnologias de ponta (membranas, filtração, controlo em tempo real) e leis de qualidade rigorosas. O Ministro do Ambiente salientou recentemente que estes esforços, que estão em curso há vários anos, garantem atualmente a segurança da água para toda a população. Este modelo está agora a ser estudado por milhões de investigadores, decisores e profissionais da gestão da água em todo o mundo.
Singapura: a autossuficiência assenta na inovação
Singapura, uma cidade-estado sem recursos naturais, enfrentou o desafio da água com distinção. O programa NEWater baseia-se num sistema avançado de tratamento de águas residuais, que resulta numa água de qualidade excecional. Esta água é utilizada para fins industriais e domésticos, e até para complementar a água potável.
Mas Singapura não se fica por aqui. O país também investiu maciçamente na recolha de águas pluviais, em reservatórios urbanos e bacias de armazenamento, e na educação contínua da população para um consumo responsável. Em colaboração com o sector privado e os serviços públicos, a cidade conseguiu transformar a água num sector de alta tecnologia reconhecido em todo o mundo. É um modelo que inspira muitos países, incluindo na Europa. O programa NEWater foi aclamado por especialistas e serve de exemplo em conferências internacionais sobre inovação no sector da água.
Austrália e África do Sul: a resposta da resiliência à escassez
A Austrália e a África do Sul passaram por períodos críticos de escassez de água nas últimas duas décadas. Na Austrália, a “década negra” alterou as prioridades nacionais. A introdução de projectos de recolha de águas pluviais e de reciclagem de águas residuais, bem como de tarifas progressivas ligadas ao consumo, ajudou a travar uma crise grave. Atualmente, muitas cidades australianas estão equipadas com sistemas de águas residuais domésticas e urbanas de alta qualidade.
Na África do Sul, a cidade da Cidade do Cabo evitou por pouco o “Dia Zero” em 2018. Esta crise acelerou o desenvolvimento de infra-estruturas de tratamento, de recolha de águas pluviais e de campanhas de sensibilização do público. O governo também lançou campanhas sobre os riscos associados às alterações climáticas, incentivando as empresas e os particulares a investir na gestão da água. Estes exemplos mostram que, mesmo em países onde o desperdício e as perdas de água são significativos, é possível encontrar soluções concretas.
França e Europa: um potencial subaproveitado
Em França, a água foi durante muito tempo considerada um recurso abundante. No entanto, as secas dos últimos anos, as restrições à utilização e as tensões locais revelaram a vulnerabilidade do sistema atual. Embora algumas regiões, como a Bretanha e a região Provence-Alpes-Côte d’Azur, estejam a começar a concentrar-se na gestão sustentável da água, a França ainda está atrasada no que diz respeito à reutilização das águas residuais.
O último relatório do Senado sobre a água salientou a necessidade urgente de modernizar as infra-estruturas de águas residuais, desenvolver projectos-piloto de reciclagem e integrar melhor a água nas políticas de planeamento regional. O Ministro francês da Transição Ecológica prometeu atualizar o quadro legislativo para acelerar esta transformação. Na Europa, alguns países, como a Espanha e a Itália, estão a avançar mais rapidamente, graças, nomeadamente, à ajuda europeia destinada a projectos de desenvolvimento sustentável. Várias cidades francesas começaram também a pensar numa pegada hídrica nacional para antecipar os impactos futuros.
Recolha de águas pluviais: um instrumento prático para os particulares
Perante esta realidade, a recolha de água da chuva é uma das formas mais simples e eficazes de aliviar a pressão sobre as redes de abastecimento. Soluções como a cisterna flexível proposta por maciterneecolo.fr podem armazenar várias centenas de litros de água. Esta água pode depois ser utilizada para a rega, a limpeza exterior, as necessidades sanitárias e mesmo certas utilizações domésticas.
Este tipo de sistema de fácil instalação é particularmente adequado para habitações unifamiliares, edifícios agrícolas e pequenas empresas. Está totalmente de acordo com os princípios do desenvolvimento sustentável e ajuda a reduzir o consumo de água potável. A instalação destes sistemas em casas particulares é uma forma importante de melhorar a gestão local da água e de responder aos desafios climáticos actuais. Em grande escala, este tipo de prática pode poupar milhões de litros de água todos os anos, reduzindo simultaneamente o desperdício associado à utilização de água tratada desnecessariamente.
Rumo a uma governação global da água
Os países que conseguiram enfrentar os desafios da água são aqueles que souberam combinar inovação tecnológica, planeamento político e envolvimento dos cidadãos. O sector da água, muito mais do que um simples serviço, está a tornar-se um pilar da segurança nacional, da saúde e da estabilidade económica. Num mundo onde a escassez de água já afecta milhões de pessoas e custa milhares de milhões de euros, a implementação de soluções eficazes tornou-se uma prioridade.
Em França, como noutros países, é tempo de nos inspirarmos nos modelos virtuosos observados no estrangeiro. Incentivar as iniciativas locais, apoiar os projectos de saneamento, desenvolver a reutilização das águas residuais e investir em infra-estruturas mais resistentes são caminhos a seguir. A gestão da água não pode continuar a ser considerada uma questão secundária. Está agora no centro do nosso futuro coletivo, do nosso ambiente e do nosso sistema de valores.
E se todos os cidadãos se envolvessem, uma gota de cada vez, para um futuro em que cada litro de água conta e em que o desperdício se torna um recurso? É isto que está em causa: fazer da água um bem comum que seja respeitado, protegido e transmitido às gerações futuras.